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Entrevista: Estamos preparados para diferentes tecnologias de descarbonização
Cláudio Sahad, presidente do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) fala sobre a atuação do mercado de reposição de autopeças frente a chegada dos veículos eletrificados. Ele acredita que as fabricantes estão se preparando, mas peças nacionais para veículos elétricos serão produzidas apenas quando a indústria começar a fabricar esses veículos por aqui
Texto: Carol Vilanova | Foto: divulgação
Revista Oficina News: Estamos caminhando para um setor mais eletrificado nos próximos anos, como o Sindipeças está se preparando para esse novo cenário de mudanças trazidas por esse movimento?
Cláudio Sahad: Em virtude da diversidade de nossa matriz energética, o Brasil está preparado para receber todas as rotas tecnológicas pró-descarbonização. Quanto ao setor de autopeças, como tem feito ao longo de sua história, vai seguir o caminho escolhido pelas montadoras. O Sindipeças, como legítimo difusor de informações, mantém seus associados detalhadamente atualizados sobre o que tem sido feito aqui e no mundo.
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RON: Quais são os principais desafios enfrentados pelos fornecedores de autopeças com a chegada da eletrificação dos veículos?
Sahad: Para que a migração para essa nova rota tecnológica seja feita de maneira justa, é fundamental que o regramento seja transparente e não privilegie indistintamente as importações de veículos. A previsibilidade e a igualdade de condições são indispensáveis para os grandes investimentos, que já começam a ser feitos, ocorram também no Brasil. Quanto às autopeças destinadas a veículos elétricos, entendemos que a demanda interna só ocorrerá quando as montadoras começarem a fabricar tais veículos no Brasil, o que ainda não ocorreu. Somente a demanda efetiva irá movimentar a cadeia para a realização de investimentos.
RON: Esses desafios acontecem tanto no OEM quanto no aftermarket? Como essas questões podem ser superadas?
Sahad: Em linhas gerias, sim. As mais de quinhentas empresas representadas pelo Sindipeças fornecem para todos os segmentos de mercado: montadoras, reposição, exportação e vendas intrassetoriais. Todos aguardam a demanda mencionada na questão acima.
RON: Considerando que os tipos de autopeças estão mudando com a eletrificação dos veículos, quais produtos serão mais solicitados agora? A nossa indústria está preparada para fornecer?
Sahad: A frota circulante brasileira tem mais de 47 milhões de veículos. Os veículos a combustão vão existir por algumas décadas ainda. Quanto à capacidade de fornecimento para veículos elétricos, sem dúvida estamos nos preparando para isso. Cerca de 80% do faturamento do setor vem de empresas de capital total ou parcialmente multinacional. São empresas que estão presentes nos maiores mercados produtivos mundiais.
RON: Instituições e escolas estão se mobilizando para oferecer programas de capacitação de mão de obra reparadora para lidar com veículos elétricos, como o Sindipeças participa desse movimento?
Sahad: O Sindipeças trabalha em parceria com as empresas que representam a cadeia de distribuição, que inclui o Sindirepa, responsável pelo setor de reparação, bem como com o Senai. Vamos ajudar no que for necessário nesse processo. Porém, em virtude de ser muito recente, a reparação para veículos elétricos ainda não se configurou em realidade para o setor de reparação.
RON: Falamos muito em sustentabilidade e a responsabilidade ambiental, como essas questões são encaradas entre os fabricantes de setor de autopeças em relação à eletrificação dos veículos? Existem iniciativas para reduzir o impacto ambiental da produção e descarte dessas peças?
Sahad: A sustentabilidade já é discutida pelo Sindipeças e seus associados há muitos anos, desde quanto esse tema não era tão relevante quanto atualmente. Bom exemplo é o Fórum de Sustentabilidade do Sindipeças, evento anual que ocorre há 19 anos. O deste ano foi realizado no final de outubro, com o tema Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas. O programa, bastante diverso, reuniu representantes de diferentes setores da sociedade, como governo, empresas, entidades e até a Bolsa de Valores (B3). Além disso, as empresas associadas têm seus próprios programas. Trinta e noves projetos foram inscritos no Programa Sindipeças de Divulgação de Projetos de Sustentabilidade e três deles, apresentados à plateia durante o fórum. Esse é apenas um exemplo. Há várias outras ações da entidade, como promoção de webinars e participação ativa em políticas para o setor automotivo, como o Rota 2030. Boa parte de nossas empresas já realiza os inventários de carbono e as PMEs associadas têm recebido treinamento do Senai, em parceria com o Sindipeças, para esse fim.
RON: De que maneira a eletrificação dos veículos está afetando a cadeia de suprimentos e a logística no setor de autopeças? Serão necessárias mudanças nas estratégias de armazenamento, transporte e distribuição dessas peças?
Sahad: Isso depende de cada fabricante. O setor de autopeças é muito diverso, em tipo de produto e de matéria-prima. A entidade não trabalha com essas informações.
RON: Há algum incentivo ou programa de apoio governamental para incentivar a produção e o desenvolvimento de autopeças para veículos elétricos? O sindicato está participando ou promovendo iniciativas nesse sentido?
Sahad: Ainda não chegamos a esse ponto. A produção de veículos elétricos no País é uma de nossas bandeiras, mas isso ainda não começou. Por outro lado, defendemos e trabalhamos intensamente pelo segundo ciclo do Rota 2030, programa que estimula os investimentos em inovação de produtos e processos, bem como o incremento da eficiência energética e ambiental dos veículos. Isso é necessário para que nosso setor ganhe relevância nas cadeias globais de valor, considerando-se todas as rotas tecnológicas, que coexistirão em vários lugares do mundo.
RON: Quais são as perspectivas de crescimento e expansão para os fornecedores de autopeças no contexto da eletrificação dos veículos? O sindicato está promovendo a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias para se manter competitivo?
Sahad: A entidade não promove o desenvolvimento de novas tecnologias. Isso cabe aos fabricantes. O principal papel da entidade é a difusão de conhecimento e informações. E isso o Sindipeças faz muito bem, em diversas frentes. Uma delas são os cursos do Instituto Sindipeças de Educação Corporativa, que trabalha em quatro áreas do conhecimento: gestão de mercado; gestão de negócios; gestão de pessoas; inovação e sustentabilidade; e manufatura e supply chain. Os associados também recebem informações, praticamente em tempo real, sobre as novidades e mudanças ocorridas em nosso setor.
RON: Como o sindicato está colaborando com outras entidades do setor automotivo para garantir uma transição suave e bem-sucedida para a eletrificação dos veículos, mantendo o emprego e a prosperidade da indústria de autopeças?
Sahad: Em linhas gerias, a indústria de autopeças segue o que for decidido pelas montadoras. Porém, a palavra-chave é descarbonização. Quando falamos de descarbonização, não me canso de dizer que, em função da diversidade de nossa matriz energética, enquanto muitos países têm apenas uma ou duas cartas, o Brasil possui o baralho completo. Estamos preparados para abrigar as mais diversas rotas tecnológicas em prol da descarbonização, bem como criar outras em que podemos ser líderes, como o hidrogênio a partir do etanol, apenas para citar um exemplo. Em suma, o Brasil possui um leque de opções pró-descarbonização muito mais amplo que a maioria dos países, e aqui a eletrificação irá ocorrer de forma diferente do que nos EUA ou na Europa.
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Carolina Vilanova, editora da Revista e Portal Oficina News, é jornalista (Mtb 26.048) e trabalha desde de 1996 na imprensa editorial automotiva. Em 2003 iniciou sua participação no mercado da reparação e reposição automotiva, inclusive como editora da Revista o Mecânico por 12 anos. No ano de 2014, idealizou o Portal Oficina News, que em 2016 teve sua versão impressa publicada, a Revista Oficina News, sob a chancela da Editora Ita & Caiana. Sob sua responsabilidade editorial, publica também a Revista Frete Urbano.