Diz o slogan que Red Bull te dá asas. Pode até ser verdade, o problema é que essas asas parecem ter obsolescência controlada pelos ventos que sopram nas montanhas do Tirol, e não chegam aos Montes Urais, tampouco aos Alpes franceses. Como a Holanda é um Estado também conhecido como Netherlands – Países Baixos, em tradução oficial -, quem anda lucrando com isso é ninguém menos que Max Verstappen, para tristeza do francês Pierre Gasly (foto de abertura/RBCP-Getty Images) e do anglo-tailandês Alexander Albon. O roteiro dessa obra tem requintes de tortura, cenas de morde-e-assopra e a influência do poder político e econômico.
O cenário da grande reviravolta do mês de férias da F-1, pelo menos até esta manhã, é o centro nervoso da Red Bull, uma fábrica de energético de fórmula criada na… Tailândia e que banca equipes com carros equipados com motores fabricados pela Honda, terceira maior fabricante de automóveis na…Tailândia. Não é nada tão simples assim, mas esta combinação de fatores ajuda a entender a recente mudança no posto de segundo piloto para o enfant terribleMax Verstappen, personagem que representa muito bem o estereótipo do consumidor da bebida do touro vermelho: o filho de Jos parece funcionar sempre 20% acima do limite de giros do motor que impulsiona seu carro.
Max é um queridinho de Helmut Marko, exemplo de autoritarismo no que diz respeito a defender suas ideias. Assim como consagrou Verstappen, o ex-piloto de F-1 já fritou Mark Webber, Daniel Ricciardo, Daniil Kvyat e, agora, Pierre Gasly, para citar apenas quatro nomes. Quem é bom de memória também vai lembrar que ele tirou Luiz Pereira Bueno de uma prova de Endurance em Zeltweg. Para manter o número de celular na lista de contatos desbloqueados de Marko jovens pilotos precisam demonstrar que são mais que uma promessa: é vital subir ao pódio e mostrar combatividade acima de qualquer deslize. Pode até bater, mas desde que seja lutando pela liderança.
Pierre Gasly chegou ao time principal da Red Bull como mais recente futuro campeão e piloto capaz de fazer frente ao privilegiado holandês. A temporada de F-Super Nippon em 2018 garantiu alguns golpes certeiros: ao desembarcar na equipe que trocou o motor Renault pelo Honda, ele já tinha uma boa noção sobre o método de trabalho dos japoneses e se aproveitou disso na pré-temporada. Foi algo bom, mas não suficiente. Corrida após corrida o francês foi abatido em capítulos num seriado no qual um coadjuvante surpreendia a ponto de se equiparar em destaque mesmo com uma pontuação longe se der comparada à ostentada pelo antagonista da história. No meio da temporada, Gasly somou 63 pontos, o que o coloca em sexto no campeonato, enquanto Albon tem apenas 16, praticamente um quarto disso.
Como cabe a um ator em início de carreira, é preciso estar atento as oportunidades. Se na música já vivemos meses bombardeados por sucessos de etnias representadas pelos sons de Macarenas, Lambadas e o K-Pop, na F-1 cada vez mais o tom de mercados em crescimento dá as cores da vez. E a Tailândia é um desses mercados e até já teve um grande nome da F-1, um certo Birabongse Bhanudej Bhanubandh, mais conhecido nas pistas como Príncipe Bira do Ceilão, Estado que antecedeu a criação desse país em 23 de junho de 1939. Bira disputou 18 GPs conquistando dois quartos lugares: um no GP da Suíça, em 1950, e outro no da França, em 1954, ano e que venceu o GP das Fronteiras, prova extra-campeonato, disputada em Chimay, na Bélgica.