Oferta e procura dita calendário

A situação de Interlagos é preocupante (Foto Rodrigo Ruiz)

A situação de Interlagos é preocupante (Foto Rodrigo Ruiz)

A Coluna Conversa de Pista é escrita pelo jornalista especializado Wagner Gonzalez
A Coluna Conversa de Pista é escrita pelo jornalista especializado Wagner Gonzalez

Famosa por usar soluções de vanguarda no que se refere à tecnologia e marketing, a F-1 não esquece o primeiro dogma da economia: a lei de oferta e procura. A meio caminho de uma temporada com 21 etapas não é de estranhar que essa máxima agora é aplicada com pitadas de déjà vu: Brasil e Canadá juntam-se a Inglaterra e Itália na lista de degola e Bernie Ecclestone dá indícios que a temporada 2017 será reduzida em duas ou três provas. Se essa proposta for tão bem sucedida quanto o teste que Sérgio Sette Câmara fará no dia 13 de julho, o brasileiro poderá viajar um pouco menos no ano que vem. O treino em questão será seu primeiro contato com um carro de F-1, no caso, um Toro Rosso, e pode gerar uma vaga de piloto reserva ou mesmo de piloto titular…

O GP da Europa, em Baku, no Azerbaijão, pode marcar uma  nova era de circuitos de rua na F-1 (Foto Reb Bull/Getty Images)
O GP da Europa, em Baku, no Azerbaijão, pode marcar uma
nova era de circuitos de rua na F-1 (Foto Reb Bull/Getty Images)

Quando a procura de um produto ou serviço é maior que sua oferta, o preço do bem  em oferta, seja tangível ou intangível, sobe. Essa tendência segue em alta até que a concorrência apareça na forma de produtos similares ou a demanda caia; surge então o momento de reposicionar o produto no mercado através de promoções do tipo compre-um-leve-dois ou diminuir a oferta. Como não há concorrente direto para a F-1 e o momento tem um viés de saturação, está explicada a proposta de reduzir o calendário do ano que vem na esperança de convencer organizadores em dúvida ou pouco propensos a pagar mais pelo show. A mensagem subliminar, e surrada, que há muitos países querendo vaga no calendário sugere que o interesse dos que estão no jogo já não é o mesmo.

Silverstone vive em constante disputa com Ecclestone (Foto Sahara Force India)
Silverstone vive em constante disputa com Ecclestone (Foto Sahara Force India)

A lista de ameaças é longa, demais conhecida por quem segue a categoria com a imortal esperança de que, um dia, um GP quem sabe, voltemos a ter uma competição mais equilibrada e disputada. Exemplo dessa eterna barganha não faltam: por exemplo, a disputa entre a FOM (leia-se Eccelstone & Co.) e o autódromo de Silverstone é antiga, tal qual a atmosfera no país que quer tirar a Grá-Bretanha da União Européia. A França, eterna rival dos ingleses, dobrou a aposta até um ponto e descobriu que pode prescindir da F-1 sem afetar o principal segmento daquilo que chama de “sports mécaniques”. Por ser a sede das principais equipes da categoria e manter uma indústria altamente especializada no setor, o British Racing Drivers Club – que administra o autódromo de Silverstone – e a divisão MAS (Motor Sports Authority) do RAC (Royal Automobile Club) vivem eternamente entre a cruz de Saint George e a cimitarra de Ecclestone. Poucos autódromos permanente sofreram tantas intervenções nos últimos 20 anos quanto a pista de Northamptonshire.

A prefeitura de Nevers bancou a corrida de Magny-Cours,  mas acabou abrindo mão da F-1 (Foto F1Fanatic)
A prefeitura de Nevers bancou a corrida de Magny-Cours,
mas acabou abrindo mão da F-1 (Foto F1Fanatic)

Além de Silverstone, os circuitos de Interlagos, Montreal e Monza estão ameaçados de perder lugar no calendário dos próximos anos: mais do que qualquer outra causa, o “X” da questão é um “$”. No caso paulistano uma longa e pouco explicada reforma em Interlagos é o pivô do crime: nunca antes na história deste País o Autódromo José Carlos Pace foi submetido a tão longa e cruel operação de adaptação, com efeitos colaterais devastadores para as categorias nacionais e, principalmente, regionais. Mesmo assim as autoridades nacional (Confederação Brasileira de Automobilismo, CBA) e estadual (Federação de Automobilismo de São Paulo, Fasp) pouco ou nada fazem para resolver o assunto. O autódromo parece cada vez mais sujeito aos desejos e objetivos dos organizadores do GP do Brasil de F-1 e de promotores de shows do que dos praticantes dos esportes a motor. O desleixo da CBA e da Fasp certamente colaboram para que a categoria internacional ocupe o espaço deixado vago por dirigentes que nada ou pouco fazem pelo esporte que deveriam defender e promover.

 As reformas de Interlagos tem custo alto e prejudicam  o automobilismo de base (Foto Rodrigo Ruiz)

As reformas de Interlagos tem custo alto e prejudicam o automobilismo de base (Foto Rodrigo Ruiz)

Décadas ou anos atrás seria suicídio questionar a necessidade do Brasil ter um GP de F-1. Hoje, não. Há mais brasileiros bem-sucedidos profissionalmente em outras categorias e as corridas da categoria já não suprem a demanda de espetáculo e disputa que se espera de uma competição automobilística.

Monza, um dos últimos traçados dos anos 1950, sobrevive a um custo alto (Foto Red Bull /Getty Images)
Monza, um dos últimos traçados dos anos 1950, sobrevive a um custo alto (Foto Red Bull /Getty Images)

Além do caso da França, citado acima, à Itália é cobrado um preço caro pela intransigência em manter Monza como um dos últimos traçados clássicos que remontam às origens da categoria, nos anos 1950. Brands Hatch, Nürburgring e Watkins Glen são alguns exemplos dessa leva que foram, junto com Rheims e Zandvoort: os três primeiros sobrevivem muito bem sem hospedar a categoria que os apaixonados “tuercas” argentinos  chamam de “la máxima”.

Watkins Glen é outra pista que abriu mão da F-1 e  gera lucros, empregos e impostos (Foto Glen.com)
Watkins Glen é outra pista que abriu mão da F-1 e
gera lucros, empregos e impostos (Foto Glen.com)

Mais: países como Coréia do Sul, Índia e Turquia apostaram em ter seu GP e não se tem notícia que a construção de faraônicos autódromos fomentaram o automobilismo local ou sequer que foram agregados à lista de investimentos auto-sustentáveis.

A Índia construiu um autódromo para receber a F-1,  mas o encanto durou pouco (Foto Red Bull/Getty Images)
A Índia construiu um autódromo para receber a F-1, mas o encanto durou pouco (Foto Red Bull/Getty Images)

Recentemente Bernie Ecclestone teceu elogios ao recém disputado GP do Azerbaijão; não seria estranho se essa corrida abrisse uma onda de realizar cada vez mais corridas em centros urbanos. A F-E mostrou que a ideia dá certo e os lucros dos políticos locais podem ser maiores em inúmeros aspectos.

Publicidade na pista e elogios de Ecclestone valorizaram o GP em Baku (Foto Red Bull/Getty Images)
Publicidade na pista e elogios de Ecclestone valorizaram o GP em Baku (Foto Red Bull/Getty Images)

Tudo isto escrito acima deve ser lembrado quando Tamas Rohonyi declara que sem a F-1 Interlagos estaria fadado a desaparecer. Interlagos está fadado a desaparecer, isto sim, não se perder a F-1 mas se não for usado apropriadamente – sua atividade fim é a prática de esportes a motor – e tenha uma gestão deficiente. É um caso semelhante ao do aeroporto de Congonhas: a falta de uma política urbanística correta permitiu o adensamento populacional ao seu redor; seu uso correto e uma administração responsável comprovam que mesmo assim ele é viável e importante para a cidade, tanto na geração de negócios, empregos e impostos…

 

Sette Câmara em alta

 

Mineiro Sérgio Sette Câmara vai testar um  carro da Toro Rosso (Foto sergiosettecamara.com)
Mineiro Sérgio Sette Câmara vai testar um
carro da Toro Rosso (Foto sergiosettecamara.com)

Um dos destaques da temporada européia da F-3, o mineiro Sérgio Sette Câmara foi convidado a testar um carro da Scuderia Toro Rosso durante um treino programado para o dia 13 de julho em Silverstone. O brasileiro vai dividir o carro com o espanhol Carlos Sainz Jr, que vai pilotar o carro no dia 12. O treino deverá contar com a participação de outros novatos e ajudar na definição dos times para a temporada de 2017. As chances de Sette Câmara são relativas e poderiam ganhar força caso o russo Daniil Kvyat deixe o time no final da temporada. O mais provável, porém, é que se o seu trabalho corresponder às expectativas ele possa ser promovido a piloto reserva e disputar a temporada da GP-2 com uma equipe bancada pelo fabricante de energéticos.

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